A pior coisa que você pode fazer no seu texto literário é explicar como os seus personagens são. Você deve mostrar as características e deixar que o leitor faça um registro sensorial.

Quando contar e quando mostrar é uma dúvida comum entre quem escreve literatura. Este assunto é complexo e tem muitas variáveis a serem consideradas, então neste texto vou trazer a você uma ideia que é primordial: a personalidade você mostra, não conta.

Quando você descreve uma personalidade, o leitor não grava na memória, pois você não fez com que ele criasse uma imagem mental poderosa do seu personagem. A informação costuma passar batida e pode ser esquecida durante a leitura. Além disso, contar não traz convencimento. Você convence o leitor quando mostra.

Personalidade tem a ver com a forma como o seu personagem se comporta, seus valores, sua visão de mundo, as influências do passado em sua vida atual. Se você diz ao leitor que o personagem é simpático ou é violento, é depressivo ou é alegre, é tímido ou é sociável, o leitor espera que você mostre isso através das cenas e dos diálogos e quando você não mostra, fica faltando algo. O seu personagem acaba superficial.

Imagine que você tem uma personagem que é neurótica com limpeza e então você conta ao leitor desta forma:

“Maria era neurótica com a limpeza da casa. Ela gostava de tudo na mais perfeita ordem. Quando algo estava fora do lugar, ficava irritada e uma simples toalha em cima da cama poderia acabar com o seu dia. Desordem era uma das coisas que mais a tirava do sério e dificilmente conseguia controlar os impulsos”.

Ok. Você deu um relato, explicou a personagem. O leitor pode se lembrar disso mais tarde ou não. Mas ele só foi informado da maneira como a personagem se comporta, ele não viu isso acontecendo com os próprios “olhos da mente”. Uma coisa é eu contar para você que sou rica. Outra coisa é eu te mostrar a Ferrari na minha garagem. Isso também funciona na vida real, não é apenas na literatura!

Agora imagine essa descrição de outra forma:

“Maria chegou em casa depois de uma viagem de três dias e sentiu os batimentos cardíacos acelerarem ainda na entrada. O quadro na parede estava torto por algum motivo inexplicável; respingos de leite reluziam no azulejo da cozinha e o pior, farelos de biscoito se espalhavam em cima do balcão. No braço do sofá, encontrou uma toalha de banho. Ela cerrou os punhos e fechou os olhos. Tentou controlar a respiração. Precisava dar um basta, não podia dividir a casa com ninguém”.

Você consegue perceber a diferença agora? Ao aprofundar a leitura, o leitor talvez venha a conhecer o que há por de trás da neurose de limpeza e como isto prejudica a vida da personagem. Na medida em que você mostra e justifica, seus personagens ficam mais reais.

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Mostrando nos diálogos entre personagens

Foto: Jaros?aw G?ogowski – Unsplash

Outra forma de mostrar a personalidade da sua personagem é através de diálogos. Crie diálogos que vão explorar os detalhes que você quer passar ao leitor, sem precisar contar a ele. Esses diálogos podem acontecer entre a personagem principal e outro personagem ou mesmo dentro de diálogos de terceiros.

Um professor pode comentar com uma mãe que está surpreso com a inteligência da aluna X. E a aluna X é a sua personagem principal, que por acaso você quer convencer o leitor de que ela é muito inteligente.

Outra possibilidade: a aluna X pode ter uma conversa inteligente com um colega, resolver um problema dele com uma solução criativa, ou quem sabe ter a prova trocada por um colega ruim e por acaso o colega ruim tirou 10. Todos esses elementos de cenas e diálogos ajudam a mostrar a personalidade sem que você precise sequer mencionar na narração que a personagem é deste jeito.

Menções de terceiros

Outra forma eficiente de mostrar a personalidade é por menção de terceiros. Uma coisa é você dizer que Joana é bonita, outra coisa é você fazer o personagem B ficar hipnotizado com a beleza de Joana ou você fazer um caça-talentos abordar Joana no shopping, oferecendo honestamente a oportunidade de fazer um teste de modelo.

Se você só falar que a Joana é bonita, ok. O leitor entendeu que ela é bonita, mas não está convencido. Na medida em que você mostra isto nos detalhes, você reforça através de imagens mentais. Quando o leitor imagina essas cenas e vê acontecendo, ele não esquece. Quando terminar a leitura e você pedir ao leitor para descrever a personagem, talvez a primeira coisa que ele diga é: “ela tinha uma beleza impressionante”.

Enfim, espero que tenha dado para entender bem este conceito e não deixe de aplicar no seu texto! Quer ver mais conteúdo de qualidade? Entre para o canal no Telegram! (veja aqui), lá compartilho meus insights sobre criação literária, textos e áudios que vão te ajudar a produzir histórias mais eficientes.