A técnica dos gatilhos ajuda a levar o leitor mais naturalmente para fora da cena e deve ser usada sempre que for necessário introduzir um flashback.

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Em uma história de ficção, é muito comum que você precise fazer elementos do passado dos personagens virem à tona para justificar o que eles são hoje. Se você tem um personagem com um medo profundo de aranhas, talvez você sinta a necessidade de mostrar ao leitor a origem disso, o que aconteceu no passado que provocou esse medo irracional.

Há histórias em que os mistérios são resolvidos ao olhar para o passado. Os flashbacks ajudam a montar o quebra-cabeças na mente do leitor. As experiências do passado dos personagens explicam os acontecimentos atuais, a depender do tipo de história que você está construindo.

Uma dúvida muito comum é sobre a maneira mais adequada de fazer esse passado surgir na narrativa, uma vez que você está focado em mostrar o que está acontecendo agora e o leitor também está mais interessado na história presente. A menos que você construa uma história em que o passado importa mais do que o presente, é bem provável que o leitor não queira que as cenas sejam interrompidas para esta finalidade.

Por isto, a maneira mais eficiente e envolvente de transportar o leitor ao passado é criando um fluxo natural na sua narrativa. Você não vai tirar o leitor da cena como em uma montanha-russa que desce abruptamente, sem aviso prévio ou justificativa. Você deve fazer isso como se fosse um rio de águas calmas, que carregue o leitor harmonicamente, de modo que ele quase não perceba a quebra na cena, ele está envolvido com a maneira como você está ligando os pontos.

E como fazer isso, Ana?

O segredo para fazer isso desse jeito é através de gatilhos. Vamos falar um pouco mais sobre isso!

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Como construir gatilhos para flashbacks

Etienne Girardet – Unsplash

Isto é algo que você terá que bolar na construção das suas cenas, talvez não seja tão automático no processo da escrita. Quando precisar, não hesite em parar de escrever e pensar melhor sobre como mostrar ao leitor, que tipo de gatilho você pode construir.

Os gatilhos são “costuras” no seu texto que relacionam uma coisa com outra, fazendo a passagem de um ponto ao outro soar com bastante naturalidade. Por exemplo, você quer revelar que o pai do seu personagem era um homem violento e alcoólatra. Você não vai fazer ele tomar um café com um amigo e do absoluto nada ele comenta que o pai era violento ou se lembra de uma memória marcante com relação ao pai.

Se o amigo do personagem está falando da escola dos filhos e de repente você faz o personagem comentar que tinha um pai alcoólatra ou contar ao leitor sobre isso, a cena fica desconexa. Até parece algo óbvio, mas já vi esse problema de construção em muitas obras de autores iniciantes. 

Uma me marcou bastante, ainda no primeiro capítulo de uma história, quando um personagem cumprimenta o segundo e do absoluto nada, há uma explicação ao leitor de que eles eram amigos de infância e bláblá. Eles só se cumprimentaram, a explicação ficou boiando naquele momento da narrativa.

Mas vamos voltar ao caso do personagem que precisa contar ao leitor que o pai era alcoólatra. Ele pode ir em uma loja de bebidas com um amigo e ter uma crise de pânico porque as bebidas nas prateleiras se tornaram um gatilho para a memória dos armários de casa cheios de bebida em outros tempos. Vocês entendem como isto soa muito mais natural?

Em uma conversa com um amigo, o personagem pode ouvir o amigo dizer que está preocupado com o filho que ainda é pré-adolescente, mas pegou o menino bebendo cachaça no parque. O personagem então ter uma reação exagerada e começa a falar com nervosismo que o amigo deve impedir o filho de sair de casa. Então você tem um gatilho para levar o leitor ao passado e mostrar os traumas com o pai alcoólatra.

Faça a sua história dançar conforme a música que você está criando. Uma coisa leva a outra, então pense no que construir para levar a cena ao ponto que você deseja. Os gatilhos são fundamentais na criação de histórias envolventes.