Os escritores iniciantes cometem muitos erros ao criar uma história de ficção, por falta de conhecimento técnico, prática ou mesmo pela dificuldade de organizar as ideias e as etapas necessárias do desenvolvimento, passando pelos personagens centrais e o conflito que moverá o enredo.
Quando eu escrevi a minha primeira história de ficção, era sobre uma personagem que sofria de asbestose: uma doença pulmonar progressiva e incurável, provocada pelas fibras de amianto. Na época, eu tinha o desejo ardente de me dedicar à uma história, desenvolver e escrever um livro. Mas eu não tinha ideia de que para isso, precisava aprender técnicas da ficção e que a literatura é quase uma ciência que precisa ser estudada.
O resultado de escrever sem saber nada disso foi um livro longo, de cerca de 400 páginas, com capítulos desnecessários e personagens em excesso. Minha protagonista se isolava em uma cabana para processar o diagnóstico, encontrava uma menina que fugiu de casa no caminho e dava abrigo a ela. Além disso, na casa ao lado da cabana havia um retiro espiritual acontecendo com nada menos do que 9 personagens e um líder, que vive um romance com a protagonista.
Ela se envolve nas atividades, no retiro e romaticamente com o líder. Alguns pontos dessa história foram criados totalmente com a intuição e até se desenrolaram bem, como o crescimento da personagem e superação das dificuldades da doença. Mas outros pontos acabaram com o poder de atratividade do livro: muitos capítulos aprofundavam o treinamento sem que houvesse necessidade para o enredo; eram muitos personagens para o leitor absorver e nem eu mesma consegui desenvolvê-los bem.
Quando temos uma ideia de história e queremos transformar em um livro, o primeiro sentimento que vem é o de empolgação com o potencial do mundo que queremos criar. Mas muitas vezes, os erros são cometidos na hora do desenvolvimento e fazem o autor travar. Sem conseguir criar um enredo que funcione, o autor iniciante começa a escrever, mas se perde nos capítulos e acaba desistindo do projeto.
Ao entender os motivos que levam para este desfecho indesejado, você se coloca no rumo certo para evitar isso. Nem preciso dizer que estudar criação literária (ou escrita criativa, se preferir chamar assim) é fundamental para um aspirante a escritor, então vamos direto ao ponto para descobrir outros erros que são cometidos na etapa da construção.
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1. Construir mais o mundo do que a história
Eu recebo muitas mensagens de escritores iniciantes que estão há muito tempo planejando uma história de ficção e não conseguem sair do lugar. Quando eu peço para resumir a história ou mandar uma sinopse, identifico o problema logo de cara: eles estão focados em criar um mundo e não uma história.
A proposta de mundo soa interessante, mas a sinopse ou resumo não cita personagens! Não há enredo sem personagens e se você focar em construir o mundo em vez da história, terá que lidar com dois problemas. O primeiro é que o mundo não é construído de acordo com as necessidades do enredo porque a história não está sendo planejada e o segundo é que regras desnecessárias acabam sendo criadas na tentativa de construir um universo completo.
Você não precisa de um universo completo, você precisa de uma história que funcione dentro da sua proposta de universo. Foque em criar os personagens centrais e suas questões, o conflito principal da trama e como vai se agravar ao longo da história, como será este desfecho no final. No meio de tudo isso, você cria as regras de que precisa para fazer a ideia funcionar.
Muitas vezes o problema é que o autor se baseia em grandes sagas, séries e best sellers que tiveram um mundo complexo construído, como é o caso de “Guerra do Trono” (R R Martin), “Harry Potter” (J. K. Rowling) ou a clássica saga de “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien. Nada de errado em querer ter um mundo complexo dentro da ficção que se desenvolva em vários livros, o problema é como fazer isso.
Primeiro é preciso pensar no mundo superficialmente, depois nos personagens e na história e só depois disso você cria o aprofundamento do universo, mas sem esquecer que só valem regras que farão sentido com a sua história.
2. Escrever sem planejamento
Este é clássico e é um erro grave. É como tentar tocar piano sem saber ler partitura. Tem pianista que consegue fazer isso bem? Tem, mas não é a maioria. Este é outro erro que eu cometi quando comecei, pois achava que só precisava de um drama e alguns personagens e então podia deixá-los seguir naturalmente, que eles ganhariam “vida”.
Ledo engano. Sem planejamento, as chances de você acabar com um livro confuso e sem nexo são muito altas. Se você cria um personagem superficialmente e lá na frente decide que ele vai enlouquecer e matar todo mundo, temos um problema: precisamos voltar no início para que o comportamento dele faça sentido com esse desfecho. Se você começar a escrever e tomar decisões mais para frente, o desenrolar dos fatos pode não fazer sentido com o todo.
Além disso, este é o segredo de uma história de ficção mal construída e personagens rasos. Tudo exige um certo nível de domínio para que convença o leitor do que estamos contando. É como você querer dançar uma coreografia no palco sem nunca ter ensaiado. Planeje antes de escrever, tenha pelo menos um conflito que valha a pena, conhecimento sobre os seus personagens e uma estrutura de enredo montada.
3. Não fazer edições e revisões da sua história de ficção
Por fim, este é outro pecado grave de quem está começando na literatura. Parece que é só colocar um ponto final no texto que está tudo certo, mas a realidade não é tão doce. Por mais que você planeje a história, algumas coisas podem sair do controle no fluxo da escrita. Depois, é preciso ler e reler tudo com calma, reescrever o que não ficou bem nítido, cortar o que ficou em excesso.
É um trabalho quase cirúrgico. Sem isso, a sua obra equivale a um trabalho de artesanato em que faltaram acabamentos. Imagine um blusão tricotado mas com furos nos pontos, a gola não foi feita, as mangas estão irregulares. Este é o seu livro depois que você coloca um ponto fnal e fica com preguiça de editar.