Estrutura foi utilizada em livros e filmes como Star Wars, O Senhor dos Anéis, Cinderela, o Rei Leão e outros.

Foto: Esteban Lopez on Unsplash

Ao lado da estrutura de três atos, a jornada do herói é um dos tipos de estrutura mais presentes nas histórias ficcionais e amplamente explorada em livros e filmes que fizeram grande sucesso. Esta estrutura teve as etapas desvendadas por Joseph Campbell, no livro “O Herói das Mil Faces”, que vale a pena a leitura para se aprofundar no tema.

A jornada que leva o herói do início ao fim da narrativa também foi aperfeiçoada por Christopher Vloger, no livro “A Jornada do Escritor”. As 17 etapas relatadas por Campbell acabaram se transformando em 12. E neste texto vocês vão conhecer os detalhes de cada uma delas.

Não há muitos segredos para se criar uma história com base nesta estrutura. Basta que o autor siga os passos dentro da proposta de aventura definida e o resultado será uma história com poder de envolver o leitor. Porém, há muitos poréns que preciso dizer antes de seguir este texto. E os motivos pelos quais acredito que a estrutura de três atos é um caminho mais honroso.

Um deles é que a jornada do herói, que se tornou amplamente conhecida, traz um pouco de previsibilidade para a história. Se você conhece essa estrutura, você consegue perceber o rumo que qualquer história baseada nela irá tomar. Quando o herói recebe o chamado para a aventura, você sabe que ele irá recusar, você sabe que vai rolar uma conversa com o mentor e que eventualmente ele vai aceitar.

A estrutura de três atos pode ser usada em qualquer tipo de história e não deixa a sequência dos acontecimentos tão previsíveis. Você até pode perceber quando o personagem passar pela primeira porta sem volta, mas você não tem ideia do que será a segunda. Além disso, essa estrutura está mais no campo de conhecimento de quem cria ficção, enquanto que a jornada do herói é conhecida em algum grau por pessoas que não criam histórias.

E para falar bem a verdade, qualquer livro na jornada do herói também pode ser dividido em três atos, pois esta é a estrutura natural de uma história e também da vida. O dia é dividido em três atos: manhã, tarde e noite. A vida também: você nasce e passa a infância no ato 1, entra na vida adulta no ato 2 e na velhice no ato 3. Por isto podemos dizer que é muito difícil fugir desta estrutura e o ideal é utilizá-la com consciência.

Mas vamos abordar as etapas da jornada do herói neste texto, caso você esteja cogitando utilizá-la no seu livro. E se for o caso, ainda assim é possível aproveitar muitos elementos da estrutura de três atos e criar uma história com alto poder de envolvimento.

As 12 etapas e como usar a jornada do herói

Esteban Lopez – Unsplash.


1. O mundo comum

Esta primeira etapa é parecida com a estrutura de três atos. Aqui temos a apresentação do mundo comum do protagonista, onde o leitor fica sabendo quem ele é, onde vive e com quem se relaciona. Na jornada do herói, temos um personagem sem consciência de ser um herói, com seus defeitos e qualidades, interesses e outros elementos que geram identificação no leitor.

2. Chamado para a aventura

Nesta segunda etapa, o personagem é chamado para fora de seu mundo comum. É aqui que inicia o conflito: o herói não-declarado se depara com uma missão que só cabe a ele fazer. Esta aventura pode ser a missão de salvar o mundo ou uma pequena comunidade, evitar a morte de si mesmo ou de outra criatura, deve ser algo que ofereça algum grande risco caso o personagem recuse e continue preso ao mundo comum.

3. Recusa do chamado

Mas o personagem não vai aceitar o desafio logo de cara. Talvez ele não conheça direito a criatura que o chamou, talvez ele não acredite ou ele não se sinta preparado. A resistência para sair da zona de conforto e os medos vão fazer o personagem recusar o chamado.

4. Encontrando o mentor

Na jornada do herói, o papel do mentor se torna muito relevante. É o homem sábio que vai guiar o nosso herói. Uma pessoa de confiança, respeito e experiência. Se o personagem recusa o chamado por medo ou insegurança, um encontro com o mentor irá convencê-lo. Este será o empurrãozinho para a aventura.

5. Atravessando o primeiro limiar

O herói aceita o chamado e está pronto para entrar na aventura. Aqui ele irá cruzar os limites entre o mundo que conhece e o mundo que está para conhecer. Na estrutura de três atos, há algo parecido: a primeira porta sem volta.

Não necessariamente o mundo novo é um local diferente para ser explorado. Mas é algo que tira o personagem da zona de conforto, como ter que lidar com uma habilidade que ele não tinha antes ou com uma rotina totalmente diferente. Aqui temos uma mudança evidente com relação ao que era a vida no mundo comum.

6. Provas, inimigos e aliados

Depois de iniciar a aventura, o herói irá se deparar com muitos desafios. Ele terá suas habilidades testadas e deve se preparar para o que está por vir. Neste processo, vai encontrar obstáculos e os aliados e inimigos ficarão claros.

Enquanto separe-se o joio do trigo e o personagem começa a enxergar quem está com ele e quem está contra, o leitor vai se envolvendo mais com suas características e particularidades.

7. A caverna secreta se aproxima

Aqui temos uma pausa que serve para que o leitor sinta a dimensão do que está por vir. O herói entra em uma crise interna com seus medos e suas inseguranças. Ele retoma os questionamentos que teve antes de a aventura começar. 

Na estrutura de 3 atos, este ponto também está presente como um elemento essencial em qualquer história: é o momento do protagonista na frente do espelho. O momento em que ele olha para si mesmo, suas fraquezas e necessidade de se fortalecer.

8. A provação

Aqui a jornada do herói leva o protagonista para um teste muito difícil, o enfrentamento de um grande inimigo com risco de morte, um conflito moral ou um grande desafio. Aqui o herói precisa enfrentar com base nos conhecimentos e força que já adquiriu durante sua jornada. Aqui temos uma transformação em evidência.

9. A recompensa

Na próxima etapa, o herói é recompensado depois de ter lutado bravamente, derrotado um grande inimigo, passado pela provação. Ele irá se transformar em alguém mais forte e mais digno e essa recompensa pode surgir na forma de um objeto de valor. Pode ser também qualquer outra coisa: o perdão de alguém importante, uma nova habilidade dominada ou outro elemento.

10. O retorno para a casa

Terminada a aventura, o herói está pronto para retornar ao mundo comum, mas ele não é mais o mesmo. Aqui temos um retorno menos turbulento, pois os perigos de antes não existem mais. Este retorno tem um viés mais reflexivo. O sentimento é de ter cumprido a missão e recebido o reconhecimento dos outros personagens.

Mas há algo mais. Neste momento o herói pode ter que tomar uma decisão importante, escolher entre realizar um grande objetivo ou tomar uma atitude que irá causar um bem coletivo.

11. A ressurreição

Aqui temos um momento surpreendente na história. O inimigo que parecia derrotado ressurge, pegando todos de surpresa. É a hora em que o herói terá que ser ainda mais corajoso e derrotar o inimigo de forma definitiva ou tudo estará perdido para ele e para os outros.

Ao derrotar este inimigo definitivamente (ou temporariamente, caso esse inimigo for ressurgir no futuro), o herói completa sua transformação.

12. De volta com o elixir

Agora sim o herói é reconhecido pelo sua grandiosidade. Retornar ao mundo comum significa uma grande conquista. Ele não é mais o mesmo e sua vida não será mais a mesma depois da aventura. O elixir é basicamente essa transformação, algo que ele aprendeu ou seu novo jeito de ser que irá beneficiar a comunidade.