
O livro que eu publiquei este ano foi o ápice da originalidade na minha carreira. Foi tão original que se tornou impossível de ser copiado. Chamado de “O Diário da Minha Vida Ingrata”, a história se trata de uma aventura protagonizada pelos meus gatos, Sabrina e Tobias e sua jornada real entre o Japão e a Suécia.
Quando eu tive a ideia deste livro, parecia uma loucura que era melhor não levar adiante. Meu namorado é um fotógrafo sueco e uma de suas paixões é fotografar os nossos gatos. Um dia ele estava editando imagens da Sabrina quando encontrou uma foto da gata em uma pose tão charmosa e confiante que ele comentou: “se a Sabrina fosse escritora, essa foto iria para a página do autor”.
Na hora eu pensei: “e por que a Sabrina não pode ser uma escritora?”. A semente da ideia tinha sido plantada e era maluca demais para se tornar real, mas eu fiz acontecer. Na época, morava sozinha com os gatos no Japão e o Johannes (meu namorado) estava na Suécia. Quando fiz a minha mudança do Japão para a Suécia passei por todos os perrengues possíveis em plena pandemia até conseguir mandar os gatos sozinhos de Tóquio para Estocolmo.
Todo este background real inspirou o enredo da história. Uma ficção protagonizada por gatos reais, com personagens reais e suas características reais, mais ainda assim uma ficção. Para completar, inseri na história mais de 30 fotos dos gatos, tiradas pelo Johannes e que ilustram momentos específicos da narrativa.
Isto tornou o meu trabalho original. Existem outras histórias estreladas por felinos (quem não conhece “Um Gato de Rua Chamado Bob?”), e talvez até tenha alguma que envolva gatos, Suécia e Japão, apesar de ser um pouco mais difícil de achar. Mas não vai existir um livro que chegue nem perto do enredo que eu construi, pois eu usei um recorte da minha própria vida para inspirar a história.
E a minha história pessoal é única, assim como a sua. Quando se fala em ser um escritor original, não significa exatamente você criar algo que nunca foi pensado na história da literatura mundial. Não se trata de um enredo incrível, excêntrico, que fuja de todos os limites da imaginação de qualquer outro escritor.
Na verdade, ser original é trazer algo único seu para dentro da sua história de ficção. Este elemento retirado da sua autenticidade é como a sua assinatura e as suas impressões digitais: simplesmente não pode ser criado ou impresso por outra pessoa.
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Seja autêntico para ser um escritor original

Isto não significa que o segredo para ser original é criar uma ficção baseada na sua história de vida, como eu fiz em “O Diário da Minha Vida Ingrata”. Você pode fazer algo nesta linha caso tenha uma ideia que te deixe animado, mas não precisa ser assim. O seu livro pode ser só uma ficção baseada em ficção e ainda assim ter elementos únicos seus.
Uma maneira de fazer isto é compartilhando as suas ideias, a sua visão de mundo, as injustiças que você vive ou presencia e dar um significado a mais para a sua obra de ficção. Eu gosto muito de fazer isto, transformar minhas ideias, pensamentos e críticas sociais em uma mensagem dentro da minha história, ajudando a criar consciência no leitor e, ao mesmo tempo, expressar as minhas emoções.
O meu primeiro livro, “O Oitavo Andar”, é uma história que fala sobre ilusões, pressão dos pais, inveja, mentiras, traições e injustiças. “O Diário da Minha Vida Ingrata” tem uma pitada de defesa da causa animal, critica ao abandono e a comercialização de pets. Eu não posso revelar ainda, mas já tenho clareza da mensagem que será passada no próximo livro, que também vai ser um suspense.
Você pode compartilhar a sua visão de mundo através dos seus personagens, trazer um pouco das suas vivências reais para dentro da narrativa, ambientar o seu livro na sua terra natal, trazer as ruas da sua infância para dentro da sua história. A maneira como você se insere na sua narrativa de forma sutil, o jeito como você divide capítulos, expressa seus personagens e conta a sua história, são elementos únicos que tornam a obra original.
Um cuidado: deixe para lá os julgamentos
O mais difícil de ser original não é nem encontrar formas de colocar o seu lado único na sua história, esta parte eu acredito que seja relativamente fácil. O problema é fazer isto com confiança e sem preocupações. Vejo muitos escritores abrindo mão de seu lado autêntico porque se importam demais com o que os outros vão pensar, como a família, amigos e conhecidos vão reagir ao livro.
Ou por insegurança, preferem apostar em fórmulas prontas de outras obras a investir em algo capaz de te tornar um escritor original. Por exemplo, pense que você é uma escritora de romance hot que gostaria de criar uma personagem feminina poderosa, dona de um império e fazer essa mulher ser a “cafajeste” da história, iludindo e enganando homens que acreditam ter alguma chance com ela.
Você quer se expressar através desta mulher poderosa, criticar o machismo, a imagem da mulher como dona de casa presa à maternidade. Mas você acha que pode ser criticada por esta história, que podem te entender mal, que a sua família não vai aprovar, que vão julgar você pelo comportamento da sua personagem…
Então você desiste e vai criar mais uma história de CEO e secretária virgem. Você já viu essa fórmula dando certo em vários livros publicados na Amazon e resolve criar a sua versão para ver se dá certo também. É mais ou menos isto que acontece com o autor que desiste de expressar aquilo que realmente deseja por medo e em vez disso, repete algo que já foi criado milhares de vezes e imprime mais uma história clichê como um quadro de parede que mostra mais um ângulo da mesma paisagem.
Para ser autêntico e se tornar um escritor original, você também precisa ser corajoso. Viver a sua própria verdade, mostrar ao mundo quem você realmente é sem medo ou vergonha e inserir o melhor das suas ideias e emoções nas suas obras de ficção.
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