É possível desenvolver uma história sem esforço, sem dor e sem sofrimento? Posso garantir a você que sim! Mas para isso, talvez seja necessário fazer o contrário do que você está fazendo agora.

Quantas vezes você já sentou na frente de uma folha em branco ou da tela do word no computador, esperando que a ideia de ouro para o desenvolvimento da história ou para uma simples cena jorrasse do cérebro para os seus dedos? E, no fim das contas, depois de vários minutos de intenso esforço mental, você acabou frustrado, no mais completo vácuo?

Isto acontece porque a criatividade, a chuva de insights ou o simples ato de fazer um bom trabalho artístico não é algo que possa ser forçado. É como olhar para o céu em um dia de sol e querer forçar uma chuva no momento errado da natureza. Nada é forçado na natureza, as coisas acontecem quando precisam acontecer, em um fluxo que precisamos nos adaptar.

Outro dia uma escritora iniciante, que me segue no Instagram, mandou uma mensagem e contou sobre a sua dificuldade em desenvolver a história de seu livro: “Eu sento para tentar formular o conflito, fico pensando, faço esforço, mas não me vem absolutamente nada”, disse ela, infeliz.

E isto me faz pensar em uma experiência recente que pode até parecer que não tem nada a ver, mas está intimamente ligada com essa ideia do esforço para sair algo de qualquer jeito e a frustração de não conseguir. Eu gosto de ouvir e dançar músicas antigas, que marcaram a minha infância. Na época da escola, decorava coreografias, sabia de cor algumas músicas e as danças.

Depois de adulta, me deparei várias vezes com essas canções antigas, até na presença de amigos que compartilham as mesmas lembranças. Lembro de uma vez ouvir uma música que eu dançava na infância, fazer um esforço para tentar lembrar a coreografia e simplesmente não conseguir! Quando tinha uns 10 anos, eu podia dançar a música de olhos fechados, mas muitos anos depois, eu simplesmente não lembrava mais.

Só que na semana passada, lá estava eu em casa, ouvindo músicas antigas e pensando em dançar. De repente, entrei no fluxo das canções, esqueci a minha idade, onde estou e tudo mais que não fosse a música e meus movimentos. Quando meus fones tocaram a tal música que eu tinha esquecido a coreografia, não pensei em absolutamente nada, não fiz esforço nenhum. Dois minutos depois, percebi, espantada, que o meu corpo estava reproduzindo com perfeição todos os movimentos que eu fazia aos 10 anos de idade. A coreografia tinha voltado ao meu consciente!

É incrível quando temos resultado sem fazer esforço e quando nos esforçamos para ter uma ideia ou lembrar de algo, simplesmente não sai. Quando você se preocupa que precisa fazer algo sair da sua mente de qualquer jeito, você começa a forçar a barra e, quando você desapega desta pressão e deixa acontecer, a torneira das ideias se abre e o fluxo começa a encher sua piscina.

É como uma mosca que faz esforço para atravessar o vidro de uma janela. Não importa o quanto ela tente, nunca será capaz de alcançar o lado de fora, pois seu corpo não pode atravessar o vidro. E se ela parar de se esforçar, voar até a porta a poucos metros da janela, ela sai para a rua, alcança o objetivo e faz 1% do esforço que estava fazendo antes.

Isso é muito interessante na teoria, mas sei que você quer saber como faz para criar sem esforço na prática e vamos chegar lá. Li recentemente um livro muito interessante que se chama ‘De Onde Vêm Boas Ideias”, do Steven Johnson e quero compartilhar com vocês um conceito apresentado nessa obra que pode ser combinado com todo esse papo sobre fluxo de ideias, coreografias musicais e a noção de que menos esforço pode significar mais resultado.

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Como criar sem esforço com a intuição lenta

Foto: Bart LaRue – Unsplash

O livro traz uma série de exemplos na história da humanidade e nas grandes descobertas científicas para explicar como carregamos intuições lentas que, com o tempo, se conectam com outras ideias, muitas até aleatórias e nos dão o insight de que precisávamos para resolver uma questão específica.

Se você está com uma questão na mente, como por exemplo como desenvolver a história do seu livro, é melhor carregar o problema no fundo do seu consciente por vários dias do que simplesmente sentar e tentar obrigar o seu cérebro a entregar a resposta que você tanto procura. É mais útil sentar para organizar as ideias que você teve anteriormente do que para tentar criar algo novo.

Isto tem feito parte do meu processo criativo há alguns anos e tenho obtido bons resultados. Quando começo a desenvolver uma história, eu não sento com uma folha em branco para fazer as ideias brotarem neste esforço consciente. As ideias brotam em momentos mais adequados, como quando estou lavando uma louça, fazendo outro serviço doméstico, no banho ou em uma longa caminhada no parque.

É disso que se trata criar sem esforço, no fim das contas. Eu mantenho a intuição na mente, que geralmente é uma fagulha daquilo que seria interessante para a minha obra. Depois, volto a pensar no tema quando estou fazendo algo mais manual ou automático. Desta forma, ideias começam a borbulhar e quando eu sento para desenvolver, na verdade, eu sento para ver minhas anotações e organizar o turbilhão que passou pela minha mente quando eu não estava fazendo nenhum esforço mental.

Carregue suas intuições lentas sobre o seu livro e não force a barra do processo criativo, caso perceba que sentar com uma folha em branco e sem ideias não funciona com você.

Entre no fluxo, mantenha essas ideias em algum lugar acessível na sua mente e reflita sobre elas nesses momentos mais propensos. É como esperar a chuva cair para sair na rua e dançar, em vez de ficar olhando na direção do céu ensolarado, com a testa franzida, os lábios apertados e um intenso esforço mental para fazer o tempo se fechar.

Fez sentido para você? Se quiser saber os insights sobre o livro “De Onde Vêm Boas Ideias”, entre no grupo do Telegram e ouça os áudios que deixei lá sobre esse assunto!